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Esta edição debate como as ancestralidades negras e indígenas incidem na gestão, na economia e nas políticas culturais no Brasil e traz um Mapa das aldeias e aquilombamentos culturais.
A partir de diferentes perspectivas e reflexões, busca-se demonstrar de que modo, em um país marcado profundamente por desigualdades de renda e de raça, a promoção de uma sociedade mais justa passa também pela defesa e valorização das culturas negras e indígenas.
Assim, os leitores são convidados a refletir sobre como as ancestralidades, plurais e diversas, impactam os setores culturais e artísticos, conhecendo e se conectando às histórias e memórias que nos antecederam, a fim de interpretar o presente e projetar um futuro mais igualitário.
ISSN:2447-7036 (versão online) / ISBN: 978-65-88878-44-6
DOI: https://www.doi.org/10.53343/100521.32
Mapa aldeias e aquilombamentos culturais
O Mapa aldeias e aquilombamentos culturais é resultado de um mapeamento que se propôs a identificar instituições e organizações culturais negras e indígenas nas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil, com o objetivo de compreender como tecnologias ancestrais e saberes de base comunitária têm produzido formas diversas de organização, produção e gestão no âmbito da cultura.
Em um primeiro momento, foram identificadas as instituições e organizações culturais em cada região, por meio de uma pesquisa on-line que considerou as iniciativas que fossem majoritariamente ou integralmente protagonizadas por pessoas negras e/ou indígenas em seus quadros de gestão, e que desenvolvessem ações voltadas para o fortalecimento e a promoção das culturas negras e indígenas. Feito o primeiro contato e recebida a confirmação do interesse por integrar o mapeamento, foi realizada a coleta de dados dessas iniciativas, a partir da aplicação de formulários digitais estruturados segundo as categorias Identificação, Estrutura interna e Atuação. Por último, esses dados obtidos foram examinados e interpretados pelo método da análise temática. O mapeamento reúne informações sobre 27 instituições e organizações culturais negras e indígenas em diversas localidades do território brasileiro.
Esta é apenas uma amostra da pluralidade de perspectivas, de formas organizativas e de atuação que emergem da sociedade e constituem o campo da cultura no Brasil. No entanto, é o suficiente para evidenciar que a gestão cultural contemporânea é um importante território de ações insurgentes, de construção sociopolítica e de reelaboração de narrativas e possibilidades de (re)existência, na medida em que a atuação nesse campo é instrumentalizada por agentes culturais negres e indígenas para a elaboração de práticas desviantes. Essas condutas se desviam inclusive de uma institucionalidade hegemônica, que absorve símbolos culturais de matrizes africana e ameríndia invisibilizando seus sujeitos, suas comunidades e seus saberes de origem. Frente ao etnocídio, ao epistemicídio e à necropolítica, agentes culturais negres e indígenas fazem da cultura um terreiro de reinvenção das condições de existência de suas comunidades. Assim, a cultura e as artes reafirmam o seu compromisso com a sua dimensão social e política, sobretudo em um contexto de desmonte.